segunda-feira, junho 19, 2006

Construção civil cresce, mas concentrada no setor residencial

A construção civil cresce a um ritmo significativo neste ano, mas o perfil dos investimentos no setor não é dos melhores, na visão de alguns economistas. A questão é que os números indicam que há mais investimentos no segmento residencial do que em infra-estrutura ou novas fábricas. Com isso, ainda que cresça 5% a 6% neste ano, o desempenho da construção não deverá levar a uma grande expansão da capacidade produtiva do país, como avalia o economista Sérgio Vale, da MB Associados.

O segmento responde por cerca de 60% da chamada formação bruta de capital fixo (FBCF). Os outros 40% se referem ao investimento em máquinas e equipamentos, que avança a uma velocidade significativa, em grande parte devido à importação de bens de capital, favorecida pelo dólar barato.

De janeiro a abril, a produção de insumos típicos para a construção civil cresceu 4,7% em relação ao mesmo período de 2005, um número superior ao avanço da indústria geral, de 2,9%. É um número positivo, diz Vale, mas que precisa de algumas qualificações, segundo ele. Uma análise mais detalhada dos números divulgados pelo IBGE sugere que os segmentos que mais crescem são os mais relacionados à construção residencial. É o caso da produção de cimento e clínquer, com expansão de 8,9% de janeiro a abril, de artigos de plástico (9,4%) e material elétrico (5,2%).

Segundo o economista André Macedo, do IBGE, esses produtos são mais relacionados à construção residencial, embora possam ser usados em grandes obras. Já a produção de tubos de ferro e aço, mais ligados a obras de grande porte caiu 16,6% no período.

Vale lembra ainda que 80% do consumo de cimento, que cresceu 6,8% nos 12 meses terminados em abril, é liderado por compras de pequeno porte - o chamado consumo "formiga", ligado à construção, reforma ou ampliação de residências. Mas Vale diz que o desempenho não é uniforme em todo o país.

Na Região Sudeste, há sinais de investimentos ligados a obras de maior porte. O consumo de cimento em São Paulo cresceu 7,7% nos 12 meses terminados em abril, mas a venda de materiais no varejo apresenta pequena queda no período. Para Vale, isso mostra que o consumo "formiga" não é tão importante no Estado. Obras como a ampliação do metrô, grande consumidor de cimento, explicariam o crescimento de 7,7%, avalia ele. Minas Gerais é o outro grande destaque no consumo do produto, com avanço de 25,4% nos 12 meses terminados em abril. Vale acredita que, nesse caso, a expansão é puxada por gastos do governo mineiro e ligados à mineração, principalmente pela Vale do Rio Doce.

Vale ressalta que o consumo aparente de aço plano está em queda de 11,7% nos últimos 12 meses. "Isso mostra que a indústria de bens de capital e de transformação não tem crescido adequadamente, como de fato indicam os números de produção da indústria de bens de capital e de insumo elaborados", resume ele. Na produção de bens intermediários, o que mais cresce são justamente os relacionados à mineração e a combustíveis. "O cenário de investimento no Sudeste mostra que ele é voltado mais a indústrias relacionadas aos setores de mineração e combustíveis e a obras públicas em Minas e São Paulo. Não são investimentos generalizados na indústria." No Nordeste, o quadro é diferente: o consumo de cimento é puxado de fato pelo varejo, devido ao aumento da massa salarial.

Além do crescimento da renda, a maior oferta de financiamentos habitacionais explica o bom desempenho da construção residencial, como nota a economista Ana Maria Castelo, da GV Consult. Segundo ela, apenas os recursos da caderneta de poupança para esse fim totalizam R$ 8,7 bilhões neste ano, mais que o dobro dos R$ 4 bilhões financiados em 2005.

O quadro para a infra-estrutura já é mais difícil, ainda que 2006 tenha mais gastos públicos nessa área, por ser um ano eleitoral. Ana Maria reconhece que fatores como a falta de um marco regulatório adequado (é o caso de saneamento) e dificuldades para obtenção de licenças ambientais atrapalham bastante, mas ela não é pessimista quanto ao cenário para 2006. "O volume de investimentos está aquém do necessário para resolver os gargalos da economia, mas o quadro para este ano é positivo e a construção deve crescer 5,1%", diz ela, lembrando que no primeiro trimestre o emprego no setor cresceu 9,8% em comparação com o mesmo período de 2005.

A Associação Brasileira de Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib) vai numa linha mais parecida com a de Vale, ao traçar um cenário não muito animador para o investimento em infra-estrutura. A expectativa da entidade é que eles totalizem US$ 17,7 bilhões em 2006. É um número superior aos US$ 14,5 bilhões no ano passado, mas abaixo das necessidades do país, segundo o vice-presidente-executivo da Abdib, Ralph Lima Terra. Em 2003, um estudo da Abdib estimou que seria necessário investir US$ 26,7 bilhões por ano, nos dez anos seguintes, para acabar com gargalos e melhorar a competitividade do setor privado.

Segundo ele, os investimentos neste ano estão muito concentrados nos setores de petróleo e gás e transmissão de energia - dos US$ 17,7 bilhões, esses dois segmentos devem responder por US$ 12 bilhões. Já os de saneamento, telecomunicações, geração e distribuição de energia e transportes deixam muito a desejar, afirma ele. Do total investido em infra-estrutura, 40% costumam estar ligados à construção e os outros 60%, a equipamentos. Isso ajuda a explicar o bom desempenho do consumo aparente de bens e capital (produção doméstica e importações, menos exportações), que cresceu 10,1% de janeiro a abril em relação ao mesmo período de 2005.


Fonte : - Valor Econômico

0 Comments:

Este site apoia e é apoiado por Piadas